Bicheiro bom é bicheiro …
Não há carioca que não tenha cruzado com algum ponto de bicho numa calçada qualquer. Da Zona Sul à Zona Norte, quem vê aquele tiozinho sentado numa carteira escolar ao lado de uma padaria ou bar já sabe o que está rolando. E os bastidores do tal jogo também nunca foram mistério para ninguém: assassinatos, lavagem de dinheiro, corrupção e carnaval. Como muita gente tem dito nas redes, “Vale o escrito”, série documental do Globoplay que reporta a construção do império da contravenção carioca, é "puro suco de Rio de Janeiro".
Não sou micheteira. Ana Claudia Soares, ex-mulher de Maninho, no EP2.
O conteúdo de “Vale o escrito” deveria ser a base para uma prova escrita aplicada aos candidatos à uma “cidadania carioca”. Só ganharia o crachá emitido por Fausto Fawcett e Fernanda Abreu quem passasse no teste e entendesse a relação (de amor?) que a cidade tem com os fora-da-lei.
Fiquei foragida, assim, um mês só. Shanna Garcia, filha de Maninho, no EP5.
Ao mergulhar nas intrigas, traições e conluios das dinastias à frente das gangues, os jornalistas Fellipe Awi, Ricardo Calil e Gian Carlo Belotti conduzem o espectador ao longo de uma trama irresistível. "O poderoso chefão" perde. Aliás, a máfia retratada por Martin Scorsese no longa é assumidamente apontada como inspiração por um dos herdeiros do jogo no epílogo da série. Tipo assim, "normal" admirar bandido, saca?
Você acha que seríamos tão incapazes? Capitão Guimarães, sobre as supostas ameaças de morte contra a juíza Denise Frossard, no EP1.
O universo sangrento de "Vale…" dialoga diretamente com outros títulos também disponíveis no Globoplay. Um deles é a série de "Lei da selva", cujos quatro episódios, narrados por Marcelo Adnet, focam na construção do império do jogo como um todo.
A máfia é uma das minhas inpirações. Luiz Guimarães, filho do Capitão Guimarães, no EP7.
Um dos maiores personagens deste império também foi uma das figuras midiáticas mais atuantes de todos os tempos: Castor de Andrade. O poderoso chefão (opa!) é o objeto dos quatro episódios de "Doutor Castor", série de Marco Antonio Araújo, que conta a vida e "obra" daquele senhorzinho sorridente que minha geração se acostumou a ver nas transmissões de TV. Pelo menos na semana do carnaval, tanto Castor quanto os outros chefões eram tratados pela imprensa com muito respeito, talvez até com reverência. Na semana seguinte, os jornais já os tratavam como contraventores de novo. Apenas mais um ingrediente adicionado ao suco.
Os três títulos se complementam e ajudam a compreender muito do que o Rio de Janeiro vive nos dias de hoje. Ah, sim: separe algo bem divertido para ver assim que terminar o último episódio de "Vale o escrito". A cena que encerra o documentário é de desanimar o brasileiro mais otimista.
E A TÊILO, HEIN?
Escrevo este texto na manhã de domingo. Ontem, Taylor Swift e a produtora Time 4 Fun decidiram cancelar o show da loura. Fãs que estavam no Engenhão espernearam, reclamaram, cantaram Katy Perry no metrô. Suzana virou porta-voz de todos nós. E "I'm devastated" ganhou novos contornos. Não faço ideia do que vai acontecer hoje à noite, mas acho que a temporada brasileira de Taylor já se tornou um dos maiores flops de todos os tempos, ainda que o sucesso comercial seja inegável.
Vou postar mais sobre Têilo amanhã. Fica por aí… ;)