E a Shakira, hein?

Ronald Villardo
2 min readApr 3, 2024

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A popstar soltou o verbo no começo da semana para criticar o comerci… desculpe, o filme "Barbie", dirigido pela Greta Gerwig. Segundo a artista, o longa deprecia os homens. É uma leitura que muita gente teve. Não sei se concordo. Acho que filme deprecia a inteligência do espectador por outro motivo, que abordo mais adiante.

O que importa aqui é o direito de Shakira gostar ou não do filme. Será que o fato de que ela não gostou de um produto supostamente artístico nos dará também o direito de não gostar de alguma música que ela venha a gravar? Está liberado ter uma opinião própria sobre algum assunto? Oh, Senhor! Onde vamos parar desse jeito?

É claro que o parágrafo acima contém ironia. Todos temos o direito de gostar ou não de um filme, música, quadro, show, peça… qualquer obra de arte está sujeita à uma análise técnica e outra subjetiva, esta reservada especialmente aos seus consumidores mais diretos. Desnecessário lembrar, também, que fato não é opinião. Andam misturando as coisas. Aqui, falamos de opinião.

A tentativa de cercear a opinião de alguém usando o famoso cartão do "você não entendeu" é a pior coisa que se pode fazer. Tal atitude me lembra o mote do espetáculo "Bárbara não lhe adora" (1997), do dramaturgo Henrique Tavares. Na peça, um grupo de teatro não se conforma com a opinião negativa de uma crítica de teatro para um espetáculo que apresentaram. A trupe decide, então, sequestrar a especialista e obrigá-la a assistir à peça novamente, desta vez amarrada numa cadeira. Afinal de contas, para eles, "se ela não gostou é porque não entendeu".

Em tempo, discordo de Shakira. Não acho que os homens saem depreciados de "Barbie". Tenho a impressão de que a inteligência do público é que foi ofendida por um infomercial que, no fim das contas, promove exatamente os mesmos valores que critica. É um paradoxo que me parece ter passado ao largo das discussões que o filme levantou. E aí talvez resida um dos maiores valores do filme da Mattel: levantar discussões. O problema é que tal atividade parece estar tão fora de moda quanto brincar de boneca.

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