PAUL MCCARTNEY IN RIO: DEZ NOTAS

Ronald Villardo
5 min readDec 17, 2023

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ELEGANTE SIM. BOBO NÃO.

Reprodução

Paul é defensor de várias causas relevantes no mundo contemporâneo. Entre elas está a diversidade da sigla LBTQIA+. Em 2016, o ícone fez um discurso emocionado em homenagem às vítimas do massacre na boate gay em Orlando. E a bandeira da diversidade é presença certa em seus shows. Tudo isso é feito com muita elegância e sem muito barulho. Nesta “Got back tour” são projetados no telão alguns dos símbolos desta luta no vídeo que antecede o show. Mas não espere discursos inflamados ou gritos de guerra. Paul é sutil. Firme. E consistente.

MULTIGERACIONAL

Fã com logo dos Beatles tatuado no braço durante o show no Maracanã. Foto do Villardo

Entreouvido no metrô, por volta de 18h30, em um dos vagões que partiam da estação Jardim Oceânico: “Mas você conhece os Beatles?”, dizia um cidadão sênior, aparentemente com mais de 60 anos. “Claro, eu tenho todos os discos”, respondeu um jovem de evidentes 20 e poucos, que usava uma camiseta com a capa do álbum “Let it be”. O diálogo prosseguiu por várias estações, até que o grupo do jovem decidiu sair da composição para fazer a troca de linha para ter acesso ao show. O sênior disse que ficaria naquele trem e faria a troca em outra estação. O papo com a garotada havia deixado um sorriso no rosto do fã veterano, que abraçou sua companheira. Seguiram viagem numa entusiasmada e sorridente conversa.

É "NA NA NA" ou "NA NA"?

Meus amigos lindos Isabel Lippe e Silvio Essinger decorando as ordens da produção sobre o uso do "na na na". Foto do Villardo

Ninguém tira da minha cabeça de que Paul McCartney não aguenta mais os cartazes do “na na” (mas não era "na na na"?) levantados em “Hey, Jude”. O que começou espontaneamente virou um pedido da própria organização do show, que distribuiu os cartazes na entrada. Havia até um “manual de uso” na parte de trás da placa. Junto ao papel, foram distribuídos balões de encher para serem usados quando Paul cantasse “”Ob-la-di, ob-la-da” ”. Felizmente, cariocas não obedeceram a recomendação e começaram a encher os balões logo na primeira música. Apesar disso, a apoteose na hora da faixa do “álbum branco” rolou como esperado.

“PAUL, I LOVE YOU”

Divulgação

Paul cumpriu direitinho o manual do superstar internacional em terras brasileiras. Levou uma cola com frases em português que foram do protocolar “Galera!” ao mais “cringe” “o pai tá on”. Parecia um turista testando as palavras de um manual, aguardando a reação das pessoas a cada nova ousadia linguística. Momento divertido foi quando não conseguiu entender nosso “Paul, eu te amooo!” entoado pelo Maracanã inteiro. Na segunda tentativa fracassada de comunicação, alguém teve a ideia de puxar o corinho “Paul, I lovi-iúúú”. Pronto, tudo certo. “And I love you back”, respondeu.

DUETO COM JOHN

Quem não veio de Marte se emociona com o dueto de Paul com John em “I’ve got a feeling”, do histórico “Let it be”. Cata no Youtube.

ÁGUA: R$ 10

Uma das maiores críticas ao show de Taylor Swift, mês passado, foi o preço da água. Os R$ 10 por copo pesam no bolso, e acabou inviabilizando a hidratação constante que um show realizado no Maracanã em pleno verão exige. Ontem, o fenômeno da água a R$ 10 se manifestou novamente. Felizmente, não houve eventos trágicos. Mas o assunto merece atenção.

66 MIL PESSOAS

É dito que em 1990, Paul atraiu 184 mil pessoas para o Maracanã. O número menor se explica pelo fato de o Maracanã não ser mais um estádio que comporta tanta gente. E também porque, naquele tempo, se vendiam ingressos contando com os espaços atrás do palco. De toda forma, parece que a produção poderia prestado atenção no tipo de palco que foi montado para o show no Maracanã. Levando em consideração alguns relatos nas redes sociais, quem ficou muito próximo do palco, nas laterais, não conseguiu enxergar o rockstar.

ROCK, ROCK, ROCK

Hot City Horns. Reprodução do Twitter

“Ukelele”, disse Paul, apresentando ao público o instrumento antes de começar a tocar “Something”, em homenagem a George Harrison. Uma música que começou simples e acabou apoteótica. Assim como “Live and let die”, que deu um susto em quem estava assistindo ao show. As labaredas e os fogos de artifício tentavam injetar uma energia física desnecessária no show que transcorria como um sarau intimista. Ainda assim, tudo entra na linguagem do rock. Os shows a parte ficaram por conta do trio de metais Hot City Horns, composto por Kenji Fento (sax), Mike Davis (trompete) e Paul Burton (trombone), que tocam com outros artistas, como Jennifer Hudson; do DJ Chris Holmes, que enfileirou um playlist de Beatles antes de o show começar — dando o pontapé inicial como uma Rita Lee para agradar ao eternos jovens da audiência; e do baterista Abe Loboriel Jr. Este merece uma nota só dele >>>

ABEL

Abel Laboriel Jr. Reprodução da revista americana "Drum". Tô falando que ele é hot…

O que foi Abel, pelamor de Dadá? Aos 52 anos, o cara já tocou com Sting, Duran Duran e B.B.King, só para mencionar alguns. Filho de pai mexicano, formado em música em Berklee, também toca baixo, guitarra, piano e acordeon. E dança como se não houvesse amanhã. No bis, Abel adentra o palco com uma taça de vinho na mão, que faz questão de exibir às câmeras, caso alguém não tenha visto. Como faz para ser amigo dele já?

AHA, UHU, O MARACA É NOSSO!

Reprodução

Qual o último show que você assistiu no Maracanã? O meu foi o Phil Collins, em 2018. Inesquecível. Sem poder ficar muito tempo em pé, Phil manteve o público na palma da mão com malandragem e experiência no show bizz. Outro que assisti lá foi The Police, em 2007. “Message in a bottle” abriu o show que teve todas as que queríamos ouvir. Assisti ao Rock in Rio de 1991 inteiro lá, menos a noite da música pop adolescente. Eu já me julgava “velho demais”. Hoje em dia, me jogaria fácil em “Electric youth”, da Debbie Gibson, uma das atrações. Mas o melhor de todos, que me perdoe Paul, foi Tina Turner em 1988. É que foi o primeiro show internacional que vi na vida. O lugar no coração está garantido para sempre.

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