'Elvis': o que é fato ou fake no filme?
A licença poética a que muitos diretores se permitem nas cinebiografias têm motivado a inevitável pauta da checagem de fatos pós-sessão. Aquele google básico capaz de nos mostrar, por exemplo, que sobra pouca verdade nos eventos descritos em “Bohemiam rhapsody”. Já em “Rocket man”, o roteirista Lee Hall fez adaptações pontuais, apenas para afinar a narrativa. E em "Elvis"? O que é fato e o que é fake?
Entre as fakeadas está o comportamento moralista do Coronel Parker. Diferentemente do que sugere o longa , o empresário nunca deu a mínima para as reclamações dos conservadores para as reboladas do Rei. Pelo contrário. Ele entendeu que ter “haters” era uma boa estratégia para gerar buzz. E nem havia Leo Dias naquela época. Outra cena que carrega nas tintas é aquela em que Elvis teria demitido o Coronel do palco, em pleno show. Aparentemente, houve uma discussão acalorada entre eles nos bastidores de um dos concertos em Vegas. Por conta do desentendimento, Parker realmente teria apresentado uma proposta impagável de indenização, inviabilizando a quebra do contrato entre eles.
Quem assina parte das checagens é a escritora Alana Nash, autora de quatro livros sobre Elvis Presley. Entre eles está “The Colonel: the extraordinary story of Colonel Tom Parker and Elvis Presley”. A jornalista aproximou-se do empresário nos anos 90 com a intenção de apurar tudo o que conseguisse para escrever o livro. No artigo publicado esta semana na “Vanity fair”, ela também comenta os eventos narrados em "Elvis" que podem ter acontecido de fato, mas não “exatamente daquela maneira”.
O especial de Natal, por exemplo, realmente foi um ponto de tensão entre artista e empresário. Elvis queria fazer um show de rock e a emissora e o próprio Coronel vislumbravam algo mais no estilo anos 50, já considerado antigo naquele final dos 60. No entanto, não houve um “suéter” de Natal ou surpresa no track-list. O roteiro do programa foi uma transgressão para a época, no entanto, a realização seguiu como idealizada pelo artista.
No fim das contas, fica a impressão de que “Elvis” conta uma história bem próxima de como os eventos podem ter acontecido. E quase não dá para sentir as 2h39 minutos de duração. Desnecessário dizer que Tom Hanks dá um banho ao navegar por todas as ambiguidades do Coronel. E que Austin Butler virou do avesso para estudar todos os trejeitos do Rei do Rock. Nem a maquiagem de Ken Humano, usada na fase mais madura do cantor, atrapalhou a atuação cuidadosa do jovem que já é apontado como provável indicado ao Oscar. Ao fim da exibição, só fiquei com uma pergunta: por que os críticos de cinema resolveram, quase todos, chamar o Baz Luhrman de cafona?