O mago dos magos — Johann Heyss desvenda Aleister Crowley, o magista pop que influenciou de Fernando Pessoa a Ozzy Osbourne

Ronald Villardo
4 min readJul 21, 2024

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Finalmente terminei de ler “Alister Crowley — A biografia de um mago” (Editora Alfabeto), livro que me foi gentilmente enviado pelo autor, Johann Heyss, que além de escritor também é músico e tradutor. “Iniciação à Numerologia” (Editora Alfabeto) é a obra mais recente de Johann. Entre os romances, é autor de “Às vezes o buraco é mais embaixo” (2017, Editora Patuá), que também está na minha fila.

Antes de compartilhar meus dois vinténs a respeito da biografia, vale a pena fazer uma ressalva. Os amantes de esoterismos em geral tendem a respeitar o conteúdo produzido por Aleister Crowley. Quando digo “respeitar”, quero dizer levar a sério o universo da magia e considerar relevante o que o mago (e alpinista!) escreveu.

Os que não acreditam em manifestações sobrenaturais geralmente seguem dois caminhos. Um deles é desconhecer totalmente Aleister Crowley, ainda que ele tenha exercido forte influência sobre pensadores, artistas e escritores, como Fernando Pessoa, Raul Seixas e Ozzy Osbourne, para falar apenas de alguns.

A outra via é conhecer apenas o Crowley pop, ignorando solenemente os livros, organizações e até o baralho de tarô que ele produziu. Tanta atividade o tornou um dos magistas mais referenciados de todos os tempos. Para o bem e para mal.

Estou no segundo grupo.

Nunca li nada escrito diretamente pelo Crowley, ainda que eu já conhecesse a fama e a importância dele para quem acredita em mágicas.

NÓS TEMOS MÁGICAS…

Aleister Crowley aos 27 anos. Reprodução.

Ou melhor, “mágicka”, com “ck”, como Crowley preferia escrever. O motivo, segundo aprendi no livro de Heyss, era diferenciar a magia supostamente séria daquela praticada por ilusionistas. De quebra, a grafia também serve para identificar, entre os iniciados, aqueles que compram as ideias mágicas do mestre daqueles que as desprezam. Este é um truque usado até hoje por líderes de seitas, que criam símbolos discretos de reconhecimento, tanto para reconhecer iniciados quanto para identificar a inclinação ideológica de quem com eles interage. Quem escreve “mágicka”, portanto, provavelmente acredita que tal coisa existe. É desnecessário dizer que escrevo a palavra como manda o dicionário.

Este nariz de cera gigantesco é quase um “disclaimer”. Explico: como qualquer líder de seita, Crowley tem seguidores aguerridos, sempre dispostos a brigar por suas ideias ou corrigir qualquer imprecisão que seja dita sobre o mestre maior.

Sim, eu sei. Neste momento, seguidores de Crowley, da O.T.O, do Novo Éon — e de algumas outras ordens — que leem este texto já estão reagindo mentalmente ao que escrevo.

É provável que argumentem que Thelema não é uma seita, uma vez que o mote thelemita é o da liberdade; e que eles, os seguidores, têm plena consciência de que o britânico que nasceu rico em 1875 e morreu na miséria em 1947 foi um personagem polêmico.

Aos que não fazem ideia das referências que listei no parágrafo anterior, sugiro recorrer ao Google. Não vou entrar no modo explicativo. Vou falar é do livro que acabei de ler.

AUDACIOSO

Heyss fez o trabalho audacioso e impressionante de resumir a vida de um personagem tão documentado como Crowley num único volume de 283 páginas.

Com uma escrita fluida, precisa, ponderada e aplicando o máximo de filtragem possível, o que se lê na publicação de 2023 da editora Alfabeto é um retrato bem equilibrado de um dos maiores personagens do ocultismo pop dos séculos 19/20.

Por meio do livro, ainda descobri uma relação entre Crowley e L. Ron Hubbard, este um dos meus líderes de seita favoritos por conta da cara de pau com que conta suas lorotas para o povo da Cientologia. Não vou revelar como a conexão acontece porque seria um spoiler. Leia o livro do Heyss. Vale a pena.

NO CREO…

Nós, brasileiros, adoramos uma magia. Do Santo Antônio virado de cabeça para baixo até a conversa com entidades afrobrasileiras nos terreiros, tudo nos cai irresistivelmente bem. Até eu já tive meus momentos de levar chakras a sério, fazer mapa astral e jogar aquele tarô de Marselha ensebado.

Felizmente, já me livrei das crendices criadas pela sensacional mente humana que insiste na na busca de algum sentido para a aleatoriedade que resultou na nossa banal existência.

Praise the sun.

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