Weber, Testino e o assédio sexual
Em 2018, dois dos maiores nomes da fotografia “fashion” foram acusados de assédio sexual. As denúncias feitas por quatro rapazes modelos foram publicadas no “The New York Times”. Esta semana, o nome de Weber voltou à baila por conta do documentário “Abercrombie & Fitch: ascensão e queda”, em cartaz na Netflix. Ao contar a história dos bastidores tóxicos da marca de roupas, outros dois rapazes alegam terem sido molestados por Weber. Um deles conta que o fotógrafo "pegava as mãos dos meninos e dizia algo como ‘vou trazer a sua mão até você me mandar parar’”. Sabe Deus onde o membro pousava.
Assédio moral não é coisa incomum no mundo da moda. Nos tempos em que cobria semanas de moda, cheguei a testemunhar grosserias inadmissíveis de produtores com modelos nos bastidores. Meninas e meninos muito jovens eram obrigados a ouvir impropérios cruéis e inacreditáveis. Não faço ideia de como as coisas estão atualmente. Os colegas que circulam podem me atualizar. Quanto ao assédio sexual, nada tenho a dizer. Nunca testemunhei nada parecido. Mas estou bem longe de duvidar dos denunciantes. Tudo parece fazer bastante sentido.
O documentário da Netflix limita-se a mencionar o caso Weber superficialmente. O assunto principal é o ambiente inacreditavelmente racista e supremacista da Abercrombie. Entre os absurdos descritos está o rankeamento dos funcionários nas lojas físicas. Os vendedores, bonitões brancos, ficavam na linha de frente. Pretos e pardos ficam confinados ao trabalho interno, bem longe do olhar público. Gordo, então… melhor nem passar na calçada sob risco de levar um peteleco. Eu certamente levaria uma surra.
Um dos meninos que alega ter sido assediado por Weber afirma que perdeu o trabalho para a A&F por não ter se rendido aos encantos do fotógrafo. Processado, Weber fez um acordo com seus acusadores e o assunto parece ter morrido. Só faltou combinar com as redes sociais.
Uma visita rápida aos atuais perfis da Abercrombie no Instagram pode até nos fazer rir. Para não chorar. É fato que fotos de pessoas pretas, gordas e asiáticas recheiam o perfil. E há até algumas declarações do atual CEO que parecem reforçar a atual preocupação da marca com diversidade. Difícil é não pensar que trata-se de mero tokenismo. Corta para o perfil do Weber. Cerca de 80% das postagens do artista especializado em retratar homens jovens sem camisa exibem imagens de… mulheres. Vestidas.
Os comentários, nos dois perfis, não deixam dúvida: o tráfego está rolando justamente por causa do documentário. Em maior parte, em tom de deboche, como um que diz “ué? Resolveram se preocupar com diversidade, finalmente?”.
Cinismo, tokenismo ou legítima atenção ao novo mundo em que vivemos, o fato é que Weber, Abercrombie, e mais uma meia dúzia de doze por aí, estão aprendendo na marra que o mundo vai além do poder e privilégio que detêm. E eu quero é mais.