XTina in Rio: noite nostálgica com uma diva previsível

Quem entrou na Farmasi Arena ontem, às 20h05, notou que não estávamos apenas chegando para um show. Estávamos entrando numa cápsula do tempo e eu posso provar. A música que tocava neste exato momento era “Gimme more”, que Britney lançou em 2007. Quem fizer algum esforço poderá até lembrar da decepcionante apresentação da popstar no VMA daquele mesmo ano. Britney já enfrentava problemas e parecia apática no palco. Desde então, nunca mais havia ouvido essa faixa, que faz parte do álbum “Blackout”, que é excelente, aliás. Mas Britney é outro assunto… mas cápsula do tempo é isso. Um assunto puxa outro, e outro…
O que “Gimme more” puxou foi uma memória afetiva dos primeiros anos da primeira década deste século. Uma década que o playlist que antecedeu oi show também fez questão de lembrar. Rolou “SexyBack” (2006), do Justin Timberlake, “4 minutes” (2008), de Madonna com o mesmo Justin, e “Poker face” (2009), de Lady Gaga.
De um lado, entreouvi um diálogo entre dois amigos que começava com “Mas a Mariah, quando… “… não ouvi o resto. De outro lado, vi um casal de rapazes se beijando como se não houvesse amanhã. Mais à frente, duas meninas faziam o mesmo. E just like that eu fui transportado para um mundo onde Donald Trump era só um idiota, as políticas de inclusão não eram demonizadas e a gente estava até achando que podia existir em paz.
A maldita nostalgia insiste em me fazer mudar de assunto. Voltando ao show… XTina resolveu testar os limites do público deixando o público esperando por 44 minutos. E entrou pisando forte, no salto, soltando o vozeirão em “Dirrty”, “Can’t hold us down” e “Genie in a botle”, esta numa versão deliciosamente eletrônica.
Xtina parecia feliz em seu novo corpo — ela ressurgiu magérrima ano passado — e é isso o que importa. É uma delícia ver uma artista tão talentosa, feliz nos próprios sapatos aos 44 anos. E os últimos 25 foram lembrados com pompa e circunstância.
Logo após os cumprimentos esperados de “Hello, Rio!”, “I love you so much”, “So happy to be here”, Xtina anuncia: “vou cantar uma música do meu primeiro álbum: ‘What a girl wants’”, Um rapaz na minha frente começa a pular loucamente. Até aí, tudo era uma catarse.
Mas logo depois deste bloco, parece que alguma coisa desandou.

Como sabemos, desde a Reforma Cher, a Carta Magna do Pop proíbe expressamente que uma diva apresente um look único durante um show. XTina não ousaria cometer um crime contra a Constituição, portanto seguiu à risca as determinações.
Mas, aparentemente, o show pagou um preço por isso. Parece que algo passou do ponto e as trocas acabavam por desanimar o público. E cada vez que havia um dos intervalos para a troca, a audiência tinha que se contentar com uma coreografiazinha dos bailarinos aqui, um funk carioca ali, a enrolação dos backing vocals acolá.
O segredo é fazer tais trocas sem que o público se entedie. Beyoncé já cometeu erro parecido na turnê “The Mrs. Carter World Tour”, que também passou pela Arena. O que Queen B. não fez, no entanto, foi apresentar um show tão curto quanto o de XTina, ontem.
A apresentação durou exatamente 1h15, sem direito a bis. Não ficou claro que se havia um bis na manga da cantora, que não foi “exigido” pela plateia, que já estava cansada; ou se o show acabava ali mesmo.
No fim das contas, muitos fãs saíram descontentes do show do primeiro show de XTina no Brasil. Tudo pareceu previsível demais, superficial demais e… ok, vá lá, burocrático demais.
Ainda que Aguilera esteja no auge de sua voz, performance e carisma, este show parece que ficou devendo aquele toque especial. Que ela tenha aprendido o caminho e volte mais vezes para renovar nossos crachás de fãs.